Acéfalos: agosto 2006

quarta-feira, agosto 23

O fim da Liberdade

Há algum tempo atrás em o Drible contra a Morte Parte VII descrevi a liberdade que buscamos em nós mesmos.

Mas e a liberdade em sociedade? O que realmente o "homem" dos grandes centros urbanos pede?
Vivemos em uma estrutura social em que o desejo de liberdade foi trocado pelo desejo do fim do medo.

A sociedade contemporânea é fruto da constante transição e jogo de forças de prazer e desprazer, e como sintoma encontramos as grandes festas versus a violência.
A liberdade de ir e vir e a agressividade quando cruzam nosso caminho. Numa visão macro podemos ver os atentados de grupos criminosos e ações de solidariedade. Etc.

Venho percebendo no discurso das pessoas que elas preferem abrir mão de sua liberdade e privacidade em prol de maior segurança e conforto.
Lembro-me, quando criança, de ouvir formadores de opinião e políticos democratas lutarem pela liberdade de expressão e maior privacidade de suas vidas.
Hoje vemos as pessoas cada vez mais investindo em câmeras de segurança e murando seus bairros, transformando-os em loteamentos fechados. Se cada centavo fosse usado para por fim à violência, não precisaríamos desse sofrimento.

O sentimento de privacidade leva a exclusão da vida social e olhando para o próprio umbigo não se consegue chegar a soluções que alcancem além dos próprios muros.

O fim da liberdade começa junto com o fim da fraternidade. O ser humano vive sua época de existência mais egoísta e este ápice abre portas para a maldade oportunista psicopática e a neurotizar o mundo transformando-se em ostras.
Freud foi interpretado como o ícone do individualismo, pois se vivemos para realizar nossos desejos, então para que satisfazer o desejo do outro, ou se esforçar para que todos sejam felizes. Essa interpretação ocorrida nos anos "bicho grilo" envenenou a sociedade judaica cristã ocidental transformando a liberdade em suvenir. Virou um objeto de contemplação por ser escravo de sua religião, de seu emprego e de seu grupo social.

Se não houver algum movimento nessa letargia social, corremos o risco de esquecer o que é liberdade e nos adaptarmos a sermos eternamente escravos, solitários e infelizes. Mas aí já é outra história vide: http://tatolinux.zip.net/arch2006-07-01_2006-07-31.html
http://tatolinux.zip.net/arch2006-07-01_2006-07-31.html

sexta-feira, agosto 18

O fim da fraternidade

Muitos colunistas vêm tratando as mudanças sofridas no mundo de forma alarmista, digamos conservadora. Utilizando desta um meio de manter o status quo do mundo conforme o modelo vitoriano do século XIX.

Na maioria das vezes, essas pessoas dizem que no passado tudo era melhor, a qualidade de vida, as relações humanas, o meio ambiente, etc.
A verdade é que elas só olham para trás e se esquecem dos defeitos do passado.
Imagine-se sem vaso satinário, sem banho quente. Não existia escova de dentes.
O acesso a meios de transporte era escasso e uma viagem até Santos durava 5 horas (não que esse ítem tenha mudade nos dias de feriado). Não haviam vacinas para uma série de doenças. A expectativa de vida era de 50 anos. Não havia rádio, TV, computador, liberdade de expressão, crediário, etc.

Mas meu objetivo vai além de listar todos esses milagres da tecnologia e do conforto dos tempos modernos. Quero abordar o sentimento de fraternidade.

No passado, esse sentimento era comum e alimentado por todos. A igreja, na ocasião, sempre foi a maior incentivadora usando o discurso que somente pela fraternidade se pode chegar ao céu.

O termo fraternidade é definido como solidariedade de irmãos e o amor ao próximo. Com isso além do caminho da caridade (que é um gesto paradoxalmente fraterno e egoísta*), a fraternidade ganhou força nos grupos de interesse comum no passado como Fraternidade Branca, Fraternidade Rosacruz, Ku Klux Klan; Maçonaria, etc.
Hoje em dia também temos fraternidades: tribos culturais, times de futebol, orkut, etc.

O que os intelectualóides tentam impôr em seus textos é que devemos retroceder à época passada onde tudo era bom.
Mas era bom? Vejam, a sociedade sempre foi egoísta, se antes a caridade era praticada estritamente pela igreja, hoje existem Ongs, Criança Esperança, TeleTon, Casas André Luiz.

Se tudo evoluiu, é claro que Mau também evoluiu, antes nos assaltávamos com navalha, hoje, com pistola automática.

O importante é que a natureza humana é fraternal. Se não fosse assim, não haveriam tantas tribos, tantos grupos organizados em torno de um tema ou internet. Porém a origem da fraternidade está na realização de desejos egoístas.

A sociedade evolui conforme o tempo e as necessidades, com todas as qualidades e defeitos. Entendo que a exigência que temos para viver hoje é muito grande: como disse um amigo: estar vivo, estar atualizado nas posses que tem, ser belo e amar.

E apesar dele estar certo quanto ao fato que as pessoas esqueceram que é necessário fazer o outro feliz para ser feliz. Também acredito que a humanidade nunca foi assim.

*Caridade: É a ação de ajudar ao próximo através de gestos e palavras sem a necessidade de reconhecimento público. O que move o ser humano à caridade é a sensação de ser bom. É um sentimento egoísta em que a possoa sente-se superior aos outros por ser caridosa. Ela se tem a sensação de se aproximar dos santos pela nobreza do ato praticado. Esse padrão ocorre com ou sem reconhecimento público.

Diferente do Altruísmo que é a abnegação de si em prol dos outros com intenção de se interessar pelo próximo. Na caridade, não necessáriamente é preciso se interessar por quem você dá uma esmola, pois o que conta é o gesto e não o necessitado.

quinta-feira, agosto 17

Efeito Enéas

Em época de eleição sempre recebemos uma série de e-mail indicando os políticos que roubaram e dizendo: "Não vote neles!".

Ocorre que eles sempre acabam eleitos.

Sabe porque? É o chamado "Efeito Enéas". O Enéas Carneiro há 4 anos foi eleito com a maior votação já registrada para um deputado.

Existe uma lei que diz que os votos excedentes que elegeram um candidato, serve de subsídio para eleger o candidato com votação mais próxima do pleito. Sendo assim, o Enéas levou consigo mais 4 parlamentares (um deles havia recebido apenas 5 votos).

Se levarmos em consideração que os políticos de partidos com maior expressão sempre levam mais votos. Os parlamentares que não foram envolvidos em escândalos receberão votação expressiva e, assim, levaram consigo parlamentares corruptos a reeleição no congresso com o excedente destes votos.

Havendo assim a manutenção do status quo das quadrilhas e manutenção de alguns coronéis no poder.

terça-feira, agosto 15

Sorriso no Castelo

Acreditava ter nascido morto. Sem futuro.

Na tenra infancia fazia uma bola com as meias e jogava em seu quintal.

Cresceu um pouco mais e, então usava os chinelos como trave, na rua, em frente à sua casa.

Não estudava pois não havia escola em seu bairro. Aprendeu a falar tarde, talvez por falta de proteína no cérebro pela pobreza que enfrentava no sertão.

O silêncio da caatinga, ouvindo carcarás e carrochos do mato de dia e morcegos e cigarras à noite.

50 anos depois, o semi analfabeto, põe um terno. Na lapela um broche indicando uma estrela vermelha.

Subiu uma escada onde o levaria ao palco de sua maior realização. Quando lá chegou com sua esposa encontrou além de seus amigos íntimos, uma multidão que há 25 anos o acompanhou.

O menino de Garanhuns que traz até hoje as deficiências de saúde, educação, vícios - O retrato do brasileiro pobre - atravessa o abismo e sobe a rampa do palácio mais importante do país.

Esse homem é o produto da ditadura. Os invisíveis gabirus, miseráveis do nordeste. Povo que servia de massa para garantir o poder de quem já tinha o poder e queriam continuar encastelados.

Após 4 anos em que esse brasileiro típico ocupou a presidência, podemos tirar como lição que ninguém em nosso país está preparado para assumir poder.
Podemos até discutir o fato de termos exímios administradores de empresas no país. Presidentes de multinacionais, etc. Mas sobre administração pública e políticas de crescimento sustentável!! Não existe nem MBA sobre esse assunto.

O homem que sorri até 31/12/2006 no castelo é o retrato do povo com todas as suas qualidades e defeitos.

Talvez, hoje em dia, ele sorri porque tem sua cachaça em cima da mesa. Porque o povo ainda se identifica com sua figura.

Mas no fundo há uma tristeza. O "jeca" sabe que nunca esteve a altura do cargo. Talvez de cargo nenhum que tenha assumido na vida. O homem que só deu certo porque sincretizou a figura humana do povo.

Em todos os países é assim. Vide o filme de Frank Capra: A mulher faz o Homem (em inglês Mr Smith goes to Washington) em que um professor de escotismo é convidado a assumir uma cadeira no senado e é feito de marionete para os fins escusos de seus correligionários.

No nosso caso o presidente sem nome, apenas apelido, vislumbrou a possibilidade de por alguns momentos ser "coroné" também. Esqueceu-se do povo, e agindo como "coroné" usou de assistencialismo invés de infra estrutura. Me lembro de um discurso em seu início de mandato: "Não vamos dar o peixe pronto na mesa, ensinaremos o povo a pescar e não precisar mais do governo para lhes ajudar".

Ele não cumpriu com o que falou e instituiu o bolsa família sem comprometer o povo com esse benefício. Nosso presidente ensinou, sim, os empresários a pescar, não subsidiando as empresas como antes pelo BNDES. Nunca o país fechou tanto a mão para a iniciativa privada.

Foi também no governo do presidente sem nome, apenas apelido, que foi instituído o Comunismo no Congresso. Pela primeira vez, foi criado o Bolsa Parlamentar (depois apelidado de Mensalão). Todo aquele parlamentar que auxiliar o governo nos projetos postos em votação receberá um valor pelo serviço prestado a "nação".
Com isso, deputados do PSDB se filiaram ao PTB. Outros do PFL se debandaram para o PL para não criar ruído entre os partidos da oposição.

Esse foi o governo em que o Ministério Público teve a maior visibilidade e a Polícia Federal teve mais autonomia.
Com isso inúmeros "escândalos" foram desvendados:
Operação Narciso (emrpesa Daslu)
Operação Cevada (Schincariol)
Operação Confraria (filiados do PSDB)
Operação Tigre (contra doleiros no RJ)
Operação Correios (culminou na CPI do Mensalão) e mais 80 operações em nível nacional prendendo até mesmo juizes.

Todo esse trabalho não é mérito do presidente sem nome, mas não podemos deixar de notar que ele deixou essas instãncias trabalharem.

Esse ano veremos o que o povo prefere: ser feliz na ignorancia dos ralos que levam o dinheiro de nossos impostos.
Ou ficarmos consternados, mas ainda sim, deflagar até o osso as isntituições públicas.

O homem que governa o país, tem tentáculos que abarcam todas as estruturas governamentais, mais não tem preparo. Nem sua experiência de 4 anos no poder o deixou preparado para outro mandato.
Assim como o animal LULA, que sobrevive no fundo do mar, agarra-se a tudo, se alimenta de tudo, despista a todos em suas fugas, mas não tem potencial para sair do fundo do mar.

Enquanto o povo fica estagnado, existe um homem sorrindo no castelo, assistindo aos outros despreparados debaterem na TV.

Posfácio: Quando pensei no título deste texto, tinha em mente criar uma história de ficção e um esquizofrênico que vivia em seu castelo aprontando brincadeiras.
Me parece que o site está tão impregnado da energia social que acabei falando de um assunto nem tão querido por mim no momento.
mas como sempre digo: "Escrevo assim como bate no peito".