Acéfalos: O Drible Contra a Morte Parte VII (Reedição)

sexta-feira, maio 22

O Drible Contra a Morte Parte VII (Reedição)

A liberdade pela liberdade é efêmera.
A liberdade pelo compromisso é coragem.

Desde há muito tempo venho observado o culto à liberdade. A liberdade descompromissada com o mundo e com si mesmo. Encontramos exemplos dessa liberdade na literatura e nos filmes.

Num passado distante no cinema: Easy Rider - O filme que lançou Dennis Hopper e Jack Nicholson e consagrou o já famoso Peter Fonda; O Selvagem - com Marlon Brando e Acossado de Goddard com Jean Paul Belmondo. Mais recentemente: Assassinos por Natureza de Oliver Stone.

O que vemos nestes filmes são personagens cativantes e sedutores, sendo que esta característica não é condição do libertário. Passa-se a impressão de que as pessoas com essa "liberdade" são o máximo e de modo geral busca-se este perfil. O rebelde sem causa em busca da liberdade por seu próprio meio, sem se preocupar em se adaptar com a civilização.

O texto está quase parecendo discurso da TFP (Tradição, Família e Propriedade) mas não quero levantar a bandeira conservadora. Quero expor com isso que a liberdade pela liberdade tem um fim em si mesma. Não constroi uma biografia.

A vida de Jim Morrisson não forma uma biografia, a não ser para quem acha interessante ler uma rotina de "acordar-drogar-transar-drogar-dormir". O que forma sua biografia são suas idéias sobre o amor, o prazer e o senso de sociedade igualitária. No caso da Janis Joplin ocorre o mesmo, sua vida desregrada e descompromissada com o mundo contradiz com a capacidade vocal dessa mulher. No caso do Raul Seixas, a dificuldade é outra, pois o sonho de ser livre o tornou dependente da alienação provocada (as drogas). Rauzito queria ser como esses loucos acima, mas construiu família, construiu relacionamentos e até uma religião. Podemos dizer que ele conseguiu entender como se deve construir a liberdade, porém se perdeu no sonho dos mártires do rock.

Chegamos então ao Bill Gates. Maior exemplo de liberdade da atualidade. Este homem entendeu o momento do mundo, entendeu seu lugar no mundo e usou da criatividade e sua liberdade com compromisso (com sua família, gerou uma empresa, sua saúde física e conforto) e se tornou o homem mais rico do mundo. Hoje ele tem espaço para agir como bem entender sem ser displiscente com o mundo à sua volta.

Outro homem livre é nosso brasileiro Gustavo Kuerten, que, mostrou-se liberto das regras do mundo o bastante para quebrar o tabu de se jogar tenis de branco, usando cores arrojadas e cabelos compridos. Seu modo de vida nunca deixou de lado seu compromisso com a criatividade de jogadas e com as questões sociais. Quando se viu impedido de jogar por motivo de contusão criou uma grife e uma instituição de caridade.

Eles fizeram isso por obrigação? culpa? sem motivação? Não! fizeram pois sentiram-se livres de construir uma biografia pautada em compromissos.
Esse, com certeza, é um assunto polêmico pela necessidade do ser humano de sentir-se sem amarras.

Penso que a liberdade pode ser digerida pela zona de conforto que conseguimos.

1- Dinheiro gera uma zona de conforto em que podemos desfrutar de coisas pelo desejo.

2- Paixão gera a necessidade de fazer o outro feliz. Uma relação afetiva é pautada pela realização de ter uma pessoa e fazê-la feliz (não por altruismo, mas para que a outra pessoa nos faça feliz também).

3- Arte gera filhos inanimados animados pela criatividade e liberdade de expressão.

4- Família gera a base que utilizaremos para trabalharmos o livre pensar e o livre agir.

A prisão do mundo ocorre:

1- Seguir modelos pré concebidos de pseudo liberdade (modas, atitudes de pessoas que vemos como exemplo,..)

2- Religião aprisiona na culpa dos modelos engessados da igreja e pelo silêncio dos fiéis escutando os sacerdotes a dizer-lhes qual o verdadeiro "caminho da libertação"

3- Política aprisiona as pessoas e ideologias que funcionam como cabrestos na mente das pessoas, não as deixando ver outras verdades pertinentes ao seu coletivo (bairro, cidade,...)

4- Desesperança aprisiona as pessoas que deixam de acreditar que podem ser livres ou vencer em seus objetivos.

5- Orgulho aprisiona as pessoas pela vaidade, pela cobiça e pela ambição desmedida.

Acredito que se as pessoas entenderem que o ser humano é um animal e, um animal coletivo, acredito que haverá um conceito de liberdade pautado no compromisso.

Interessante ressaltar que as duas "liberdades" definidas podem se tornar prisões exatamente por viverem em função dela.

Tudo o que se define aprisiona.